domingo, 9 de dezembro de 2007

Realismo Socialista - Parte VIII

10. O espectro do comunismo ronda a Europa do Leste: a cortina de ferro!
Stálin morto em 1953: responsável por 20 milhões de mortes, seus herdeiros fizeram questão de esquecê-lo.


1945-1953: Berlim sucumbe à derrota. Stálin expande o domínio comunista sobre todo o Leste Europeu e metade da Alemanha, através da ocupação do exército vermelho. Por intermédio de eleições fraudulentas, num simulacro de democracia, ele consegue legitimar o Partido Comunista e implantar ditaduras por quase toda região, inaugurando a "cortina de ferro" do totalitarismo. As oposições políticas são esmagadas. Milhares de poloneses, tchecos, eslovacos, húngaros, romenos, búlgaros, alemães são presos, deportados ou assassinados. Até antigos membros da resistência antinazista, em alguns países, são dizimados. Muitos, sobreviventes das prisões e campos de concentração nazistas, sentirão o tacão dos tanques e das cadeias e campos soviéticos. O Pacto de Varsóvia, a "aliança" militar entre países comunistas, não passa de um tratado de governos fantoches, satélites da União Soviética. As autonomias nacionais do Leste são esmagadas pelo bolchevismo!





1956: Krushev, no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, "denuncia" os crimes de Stálin. Lenta e gradualmente inicia-se o processo de "desestalinização" da Rússia e países do Leste Europeu. Na verdade, a nomenklatura, cansada da repressão incontrolável e dos expurgos em massa no próprio Partido, queria garantir seus privilégios, sem cair na instabilidade política do regime stalinista. Desse modo, ela queria se livrar do pesado legado de Stálin, para redimir os crimes do regime sovietico. Só faltava dizer, no discurso, que o próprio Krushev e seus herdeiros também participaram dos crimes em massa.

10.1 Os ventos da liberdade fazem tremer a Cortina de Ferro.

Em 1956 explodem as primeiras revoltas contra as ditaduras comunistas do Leste Europeu. Reflexo dos protestos de Berlim Oriental, em 1953, a população, cansada de repressões políticas e condições miseráveis de carestia e desabastecimento, sai às ruas para protestar e, mesmo, pegar em armas com os regimes totalitários. Essas rebeliões são sentidas na Polônia e na Hungria, onde o sentimento de liberdade se mistura com reivindicações nacionalistas contra os seus governos fantoches de Moscou. Anos depois, a Tchecoslováquia, em 1968, rebela-se contra o poder soviético. É a "Primaveras de "Praga". São amostras de amor pela liberdade e patriotismo pelos seus países. E também a demonstração de intenso sacríficio e sofrimento daqueles povos, cujas liberdades foram usurpadas.

10.1. Berlim Oriental, 17 de junho de 1953: Os alemães orientais enfrentam os tanques comunistas.







Operários alemães orientais fazem greve contra a redução de seus salários e enfrentam os tanques do exército alemão. 16 pessoas são mortas, centenas são feridas e cerca de 12 mil pessoas são condenadas a duras penas de prisão.

10.2 .Poznan, 28 de junho de 1956. Grita a Polônia católica: Deus, Pão e liberdade!



Milhares deo perários poloneses saem às ruas, protestando contra a carestia e a repressão política, gritando "Deus, pão e liberdade". O regime manda tanques e soldados para reprimir a pacífica manifestação. A soldadesca dispara seus fuzis. Dezenas de manifestantes são mortos. Poznan inspira nos húngaros a sede de rebelião.

Cidadãos poloneses protestam contra a brutalidade do exército e da polícia polonesa em Poznan. Uma bandeira polonesa manchada de sangue é brandida pelos manifestantes.

10.3. A revolução húngara de outubro de 1956: a luta pela liberdade!



Budapeste, 23 de outubro de 1956: Milhares de manifestantes húngaros saem às ruas para protestar contra o governo comunista. Exigem liberdades civis e políticas e o fim do monopólio do Partido Comunista. Abordados pelas forças de repressão, são metralhados pela tropas soviéticas e pelos tanques.

Manifestantes húngaros derrubam a estátua de Stálin em Budapeste.


Em resposta aos massacres da polícia política e do exército vermelho, milicianos se armam contra o regime e revidam contra os ataques da repressão política. Ferozes combates são travados e o governo comunista de Budapeste é destituído. Nagy, o líder comunista mais liberal, forçado pela população, declara romper com o Pacto de Varsóvia, instituir eleições livres, o pluripartidarismo e as liberdades civis e políticas.

Um miliciana é observada pelos jornalistas, enquanto um agente da polícia política húngara jaz morto no chão pelos revoltosos.

Um soldado húngaro contempla um tanque soviético destruído.

A população comemora a queda efêmera do regime comunista, nas ruas de Budapeste.


4 de novembro de 1956: tropas soviéticas tomam violentamente a capital, em meio a violentos combates. Depois de seis dias de lutas, no dia 10 de outubro, o país é totalmente subjugado. Mais de 3 mil mortos; dezenas de milhares de pessoas feridas; 25 mil pessoas presas; 200 mil pessoas no exílio.

Os dissidentes não são poupados das execuções sumárias. . .



2006. Comemorações dos 50 anos da revolução húngara: símbolos comunistas, nas repartições públicas e mesmo na bandeira húngara, são arrancados e as bandeiras vermelhas soviéticas são queimadas.



Vídeo do hino da Hungria: os patriotas mortos em 1956 são homenageados em 2006.

10.4. 1968, a revolta de Praga: a Primavera subjugada pelos tanques!

A população tcheca se revolta contra o sistema opressivo do Partido Comunista. Exigências de liberdade de imprensa, liberdade política, liberdade de ir e vir, plurapartidarismo e liberalização econômica são discursos comuns em 1968. Além do que, a ruptura com o Pacto de Varsóvia. Curiosamente, a contra-cultura ocidental caminhava no sentido contrário: enquanto os tchecos reivindicavam democracia e valores liberais individualistas, ausentes na ditadura pró-soviética, os franceses e demais estudantes de todo o mundo cultuavam Mao Tse Tung, Che Guevara e demais regimes totalitários. Hippies protestavam pela "paz" na guerra do Vietnã, ainda que isso representasse abandonar a Indochina nas mãos dos comunistas e dos engenheiros sociais. No entanto, dentro da mentalidade tcheca, há um paradoxo discursivo: exigem todas as liberdades civis da democracia liberal, mas, ao mesmo tempo, acreditam no "socialismo com rosto humano" de Alexander Dubcek, líder moderado do Partido. Na verdade, o tal "socialismo com rosto humano" era uma espécie de adesão tímida e envergonhada aos conceitos liberais-democráticos, com pitadas sociais democratas. A influência do dramaturgo Vaclav Ravel nos ocorridos foi de grande valia para os acontecimentos. Em 5 de janeiro de 1968 o governo de Dubcek anuncia as reformas liberalizantes que incomodam o governo de Moscou. Brejnev, o premiê soviético, não gostou da graça. Meses depois, no dia 20 de agosto de 1968, a União Soviética invade a Tchecoslováquia, em duas divisões militares, com mais de 10 mil tanques, 800 aviões e cerca de 500 mil soldados do Pacto de Varsóvia, em sua maioria, russos, e tropas de mais outros países do Bloco. Alexander Dubcek foi seqüestrado, levado pra Moscou e obrigado a renegar suas idéias e, de forma humilhante, pediu, em rádio, para que a população tcheca não resistisse a invasão. Na ação morreram 90 pessoas e cerca de 500 pessoas ficaram feridas. 300 mil pessoas foram embora do país, no exílio e outras quase duas mil foram presas.

Alexander Dubcek, no auge de sua popularidade: forçado a trair seus próprios compatriotas.


Praga, 20 de agosto de 1968: os tchecos comparavam a invasão soviética com a ocupação alemã, em 1939. Cumprimentavam os soldados invasores, levantando a mão, fazendo a saudação nazista. Uma artista judia, que viveu naquele trágico momento, quando ouviu na rádio as notícias da invasão soviética, ficou tão apavorada que pensou em fugir do país. Milhares de cidadãos tomam as ruas da capital e enfrentam os tanques e mais de meio milhão de soldados com bandeiras e pedras.

Jan Palach, estudante tcheco, que no dia 16 de janeiro de 1969, cometeu suicídio público, tocando fogo no seu corpo, na frente da Praça Wenceslaw, no centro de Praga, em protesto contra a invasão de seu país pelos soviéticos. Ele contava apenas 20 anos. Seu enterro deixou o país de luto e mobilizou vários protestos nas ruas de Praga, com quase um milhão de pessoas. Mais outros cidadãos o imitam, cometendo o mesmo ato público. Nelson Rodrigues, em uma notável crônica, fala sobre o suicídio do jovem tcheco: "A Cortina de Ferro degradou a morte. Se não há vida eterna, que importa o suicídio, o fogo, a navalha ou o tiro?(...) Por sua vez, o Partido Comunista Italiano declarou que a reação soviética é um 'erro político'. Não 'moral', 'ético', 'imoral', 'desumano', mas simplesmente 'político'. O homem deixou de ser um homem, é um fato 'político'. Tudo isso aconteceu num passado recente. Todavia, aprendemos que nem sempre todos são escravos nos países comunistas. Há sim, na cortina de ferro, um homem livre - o suicida!".





Um vídeo excelente, ridicularizando os soviéticos. A música de fundo é o hino da Internacional Comunista.

10.5. Berlim e o Muro de Vergonha: o totalitarismo divide uma cidade entre a servidão e a liberdade.

Duas Alemanhas nasciam em 1945. A Alemanha Ocidental livre, capitalista, criada em sólidas bases democrático-cristãs, em particular, na figura do estadista Konrad Adenauer. E havia a outra Alemanha, a do Oriente, que demasiado sofrida com os horrores da guerra e do totalitarismo nazista, agora sofria uma nova forma de totalitarismo, com o Partido Comunista Alemão e sua versão importada de polícia política soviética, a STASI, no poder. E esta divisão cortava ao meio uma só cidade, Berlim. Duas realidades, duas potências, dois modelos que encarnavam a guerra fria. E, no entanto milhares de cidadãos da Alemanha Oriental fugiam para o lado oeste, para o lado da liberdade. O êxodo alemão do leste para o oeste chegava na cifra de mais de três milhões de pessoas! Temendo nisso uma fuga em massa de cidadãos alemães do regime comunista, o governo da Alemanha Oriental resolveu construir o muro, revogando a liberdade de ir e vir de seus cidadãos. Na verdade, essa proibição já existia em quase toda a Alemanha Oriental. Porém, como o povo não obedecia às ordens e o regime só era popular entre os comunistas, estes resolveram agir. Se não agissem, só sobraria o Partido Comunista no país e a população ameaçaria deixar Berlim Oriental deserta. O governo comunista alemão acordou seus concidadãos, na manhã do dia 13 de agosto de 1961, com barulhos de trabalhadores construindo um gigantesco muro, separando-os de outra parte de alemães. Soldados fortemente armados fechavam as fronteiras orientais de Berlim, junto com cercas e arames farpados. Mais de 150 quilômetros de concreto separavam uma mesma cidade. Amigos, namorados, noivos e famílias inteiras foram separados por anos, pelo muro da vergonha. Até casas e cemitérios foram separados. Centenas de torres, arames farpados eletrificados, cães de guarda raivosos e soldados, prontos para atirar, vigiavam os passos de milhões de alemães orientais que tentavam pular para o outro lado do muro. Quem via o muro, percebia a diferença de caráter dos dois regimes: na parte ocidental, um país sorridente, espontâneo, alegre, dono de si, redimido pela liberdade e pela democracia, depois de anos de nazismo; e do outro lado, a Berlim Oriental taciturna, cheia de guardas, militarista, escurecida, cinzenta, e um povo oprimido, vivendo numa eterno estado de sítio e toque de recolher.



A cidade dividida em mapa.



Berlim, 13 de agosto de 1961: os berlinenses orientais são acordados com essa cena. Agora eles estarão presos em sua própria cidade.

Os berlinenses ocidentais, atônicos, assistem impassíveis, a construção do muro de Berlim. Do outro lado, soldados alemães orientais.

Alemães fugindo, desesperados, para o lado ocidental de Berlim.





Essa aqui não conseguiu fugir. . .



um homem livre rondando as muralhas da prisão. . .





Ordenados para atirar e matar: no dia 17 de agosto de 1962, Peter Fechter e Helmut Kulbeik tentam pular o muro e fugir para Berlim Ocidental. Helmut consegue fugir, mas Fechter é abatido a tiros pelos guardas da fronteira e é carregado pelos seus algozes. Não há idéia de quantas pessoas morreram pulando o muro. Estima-se que quase 200 pessoas morreriam passando o muro e milhares foram presas e, por toda a fronteira alemã, os números ultrapassam a mais de mil vítimas. Somente durante os anos de 1945 a 1950, a Alemanha Oriental aprisionou 122 mil de seus cidadãos, entre os quais, mais da metade morreu. Centenas de milhares de alemães morreram nas mãos da violenta ditadura comunista alemã.



A liberdade acima da autoridade fardada: até o guarda da fronteira é um ser oprimido. Conrad Schuman não resiste e foge no dia 15 de agosto de 1961, pulando a cerca divisória da cidade. Encontra a liberdade.





O lado ocidental do Muro da Vergonha, antes de sua queda: pinturas e sinais coloridos de protesto, enquanto do outro lado, a paisagem é sombria e inóspita.

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